06/01/06: Antofagasta/CHI - San Pedro de Atacama/CHI

 

Nos encontramos no "desarranjo" e traçamos os planos do dia. Marcelo quer visitar a maior mina de cobre do mundo, em Calama. Na verdade, ele quer é ver os caminhões gigantes. Sei como é, também sou homem... Mas eu não gostei muito da estrada da vinda, e quero conhecer lugares novos. O litoral do Pacífico me pareceu muito bonito. Vou dar uma volta maior e subir uma parte pela "Costanera". Erlon decide seguir com o Marcelo e a Karla, então estou sozinho de novo.

Pego a avenida beira-mar sentido Norte. Passo um único posto de combustível, ainda em construção, não me parece aceitar cartão, passo reto. Foi um erro.

Pego a estrada "Costanera". O mar vai ficando distante, os quilômetros vão passando e não aparece nenhuma cidade.

Há uma entrada para Mejillones, mas é meio fora de mão, e não entro. Segundo erro.

Mais quilômetros e paro pra ver meu mapa. Não há informação sobre postos ou cidades à frente. Vou ter que retornar a Mejillones.

 

Vista do Pacífico em Mejillones

Condor guarda a entrada do cemitério abandonado

Ter que retornar na estrada para abastecer, quando se tem mais centenas de quilômetros pra rodar em um dia é horrível. Mas foi meu primeiro acerto. De fato, não encontrei mais nenhuma cidade ou posto de gasolina à frente.

Depois de rodar os 50 km da burrice, estou de volta ao mesmo ponto onde parei.

A estrada começa a chegar mais perto do mar. É louco! Desertão à direita e mar azul de tudo à esquerda.

Muitas falésias, areia branca. Mas o mar é muito bravo, não dá pra entrar, não! Além disso, as praias são cheias de rochas, onde as ondas estouram.

Encontro uma estrada de rípio/areia bem na beira do mar. Saio do asfalto e vou por ela.

No meio do nada, encontro um cemitério abandonado. Um muro bem desgastado diz "fomos pessoas". Acho que pede respeito. Guardando o cemitério, um condor de uns 3 metros de envergadura dá uns rasantes sobre minha cabeça. Deve ter um ninho por ali.

Não sei a história destes cemitérios, mas penso ser de mineiros. Quando a mina se esvai, todos vão embora e deixam só as ruínas e os mortos para trás.

Redundância dizer que um cemitério é mórbido, mas abandonado no meio do deserto, só com o silêncio do deserto e o barulho do condor, fica mais impressionante.


Cemitério abandonado no deserto


Estrada magnífica beira o Pacífico

Idem anterior

Muitas "gaviotas" voam sobre as pedras

Até a estranha ave, que é nativa, não cansa de contemplar o Pacífico

Sequência que mostra o quão bravo o Pacífico é. Foto 1

Foto 2

Foto 3

Mar azul de um lado, falésias e deserto do outro. Visão ímpar que não cansa

Após rodar mais de hora por essa estradinha de rípio/areia à beira-mar, descubro que ela não tem saída. Mas não tem importância, o visual valeu! Além disso, a estrada é gostosa e, ao nível do mar, a KTM voltou a andar como o capeta, e este tipo de estrada é simplesmente seu habitat.

Pego de novo a estrada "Costanera" e vou até Tocopilla. Cidade portuária e horrível, vive de gerar energia elétrica para as minas de Calama. Paro num posto de gasolina e peço pra ir ao banheiro. "Quinhentos pesos", me diz a caixa da loja de conveniência. Não tem sabão, nem toalha. Mas tem um cartaz da secretaria de saúde alertando sobre os riscos da hepatite...

Saio da loja e vejo o paredão à minha frente. Pergunto pra moça onde é a estrada para Calama. "É bem aí na frente", diz ela, embora seja impossível ver. A serra de Tocopilla é uma das mais íngrimes que existe. Sobem-se uns 2000 metros em 15 km. Muito legal.


Aeroporto abandonado

Logo após chegar ao altiplano, encontro um aeroporto abandonado, com o portão entreaberto. Alguma dúvida de que eu iria entrar?

A história deste aeroporto deve ser semelhante à do cemitério. Esvai-se a mina, vai todo mundo embora.

Quem nunca teve vontade de acelerar numa pista de aeroporto? Não perdi a oportunidade.

E é realmente impressionante!

Devia ser pista para avião muito grande, porque se anda um bom tempo (uns 5 minutos) dando final na moto até se percorrer a pista toda.

E como é lisa. Mesmo a mais de 150 km/h, você olha a bengala da suspensão dianteira e ela não se mexe um milímetro.

Outra experiência diferente pra minha vida.

Volto pra estrada e volto a subir, subir, subir. Vias férreas cortam a pista, e devemos parar, apesar de termos visibilidade de quilômetros para os dois lados e de saber que dentro de ao menos meia hora não vai passar nenhum trem por lá. É a lei no Chile. Na verdade, é a lei no Brasil também, a diferença é que lá ela é levada a sério.

Esta estrada é pior do que as outras, de vez em quando aparece um grande buraco, que a KTM atropela sem tomar conhecimento.


Outra vista da pista do aeroporto abandonado

Chegando em San Pedro, vindo de Calama, e cortando a Cordilheira de Sal ao cair da tarde

Chego a Calama e encontro Marcelo, Karla e Erlon parados no acostamento, junto a um trevo, como se tivéssemos combinado. Eles já visitaram a mina e já almoçaram. Eu ainda não almocei, me despeço deles e vou pro shopping.

Saio de lá, rodo meia hora e estou de frente ao shopping de novo. A estrada está em obras e a sinalização é péssima. O Marcelo, com GPS e tudo, fez a mesma coisa.

Pego a estrada e vou chegando a San Pedro de Atacama enquanto o sol cai. Mais um dia perfeito, mais uma viagem sensacional. Uma viagem dentro da viagem em si.

Vou pro Hostal Sonchek. Não tem mais lugar no Terracota. É um hostal mais simples, mas bem arrumado. Foi indicado pelo Oswaldo, que ficou lá. Os banheiros são coletivos, mas mais limpos que os da minha casa... Divido o quarto com Marco Polo e João Celso, que foi a Iquique, não gostou e voltou.

À noite saímos para jantar e aproveito pra queimar um CD com as fotos que tirei até então para abrir espaço no cartão de memória que já está acabando.

Vamos dormir cedo, amanhã começa a volta.

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